Escola da vida
Fundada pelo filósofo Alain de Botton e prestes a abrir suas portas por aqui, essa escola leva para a sala de aula assuntos do cotidiano e sentimentos como frustração, angústia e desejos
Foto: Charlotte de Botton
![Foto: Para Alain de Botton, os temas abordados nas aulas, um misto de psicoterapia com educação humanista, ajudam a reduzir a carga dos nossos problemas](http://educarparacrescer.abril.com.br/imagens/aprendizagem/Alain.jpg)
Para Alain de Botton, os temas abordados nas aulas, um misto de psicoterapia com educação humanista, ajudam a reduzir a carga dos nossos problemas
Normalmente, em uma prova escolar precisamos responder quais foram as causas econômicas da Segunda Guerra Mundial, a solução para questões matemáticas, a velocidade de um trem ao chegar a uma cidade desconhecida. Na teoria, a escola está nos preparando para a vida. Mas que tipo de vida? Basicamente, para uma vida de trabalho. Mas e o resto? E as decepções, as dificuldades, os grandes desafios que estão para além da porta do escritório? Como podemos nos preparar para as provas diárias da vida?
E se, em vez de tudo isso, a escola perguntasse a seu aluno: "Existe algo que você sempre sonhou em fazer? Por que não fez?" Melhor: e se essa questão não estivesse numa prova e sim fosse um assunto de conversa livre com o professor. Ainda mais inimaginável: e se as dúvidas dos alunos fossem o tema de aula, palestra ou café?
Desde setembro de 2008, 50 mil pessoas passaram por uma escola capaz de responder à pergunta acima. Aliás, a situação descrita é realidade na Escola da Vida (The School of Life), um centro de aprendizado em Londres fundado para trazer de volta à escola quem ainda mantém viva sua fome por conhecimento. A questão acima existe de fato e está no "menu de conversas" de um café da manhã promovido pelo lugar.
São oferecidos cursos, palestras, refeições com conversa, experiências de fim de semana e até sermões dominicais, voltados à "realização pessoal" e a uma "vida melhor", conforme descreve o material oficial. "Todos nascemos com um desejo inato de juntar conhecimento, mais do que isso, conhecimento sobre nós mesmos. O que mata essa fome é a maneira tradicional pela qual as escolas e as universidades ensinam as pessoas. A maioria das escolas ensina coisas inúteis e deixa de ensinar o mais importante: autoconfiança, como lidar com os relacionamentos e pensamento estratégico", afirma Alain de Botton, filósofo suíço e um dos fundadores da escola.
No programa da Escola da Vida constam disciplinas que se encaixam em muitas áreas das ciências humanas. De Botton explica o porquê: "O benefício de disciplinas como literatura, psicanálise, teatro, pintura, história, teoria política e fotografia se desdobra de duas maneiras: primeiro, elas ajudam a entender nossa condição. Elas tornam os problemas menos isolados e perturbadores. Não deixaremos de sofrer e morrer, mas teremos um pouco mais de conhecimento sobre o que acontece conosco". É uma tentativa de devolver às ciências a sua humanidade.
Ele sabe bem do que está falando. Sua carreira de filósofo é quase inteiramente dedicada a reaproximar as pessoas comuns de assuntos que parecem demasiado distantes ou acadêmicos. Até programa na televisão o filósofo suíço já teve. "Atualmente, dizer que alguém é filósofo parece uma piada, uma função antiquada e diletante. A culpa não é de um público ruim. Os filósofos são inteiramente responsáveis por isso. Eles simplesmente não conseguem falar a um público amplo sobre as coisas que ele pode entender e considera relevante", afirma De Botton.
Em novembro do ano passado, Alain de Botton esteve em São Paulo e anunciou uma unidade da Escola da Vida na capital paulista. Já existe uma equipe tratando dos detalhes necessários para a abertura da filial. Ainda este ano deve acontecer a inauguração e a divulgação de maiores detalhes. "Agora estamos avaliando uma variedade de possíveis parceiros e opções (de localização)", afirmou o filósofo e escritor.
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