Em seu quinto livro pela Cosac Naify, o catalão
Enrique Vila-Matas constrói, com ironia e humor afiado, dez histórias em
que os protagonistas flertam constantemente com o suicídio. Este,
porém, nunca chega a acontecer de fato - pelo menos não da forma como se
imagina. Escrito em 1991, o livro já possui o germe do "não"
(suicidar-se, desaparecer, não escrever) que figura em Bartleby e companhia e outros títulos do autor. Em Suicídios exemplares,
a ideia de se matar torna-se a saída para as decepções ou ausências nas
vidas dos personagens, mas algo sempre acontece e muda o desfecho
esperado. Com narrativas cheias de imaginação, sutileza e inteligência, a
obsessão pelo suicídio acaba, paradoxalmente, por afastar a tentação da
morte, e torna-se um incentivo para a vida, transformando positivamente
a ação dos heróis de Vila-Matas.
Em “A Arte de Desaparecer”, conto presente em Suicídios Exemplares
(1991), o personagem Anatol pena ao ver publicado um dos romances que
guardara em seu baú. Seduzido pelas possíveis benesses da glória
literária, em contraposição ao tédio e ao anonimato de sua recém-chegada
aposentadoria, o “escritor secreto” permite que um editor publique suas
obras. Contudo, logo é tomado por arrependimento e foge, restando-lhe a
conclusão de que “a obrigação do autor é desaparecer”.
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