quinta-feira, 3 de maio de 2012

LEITURA NÃO DEVE SER OBRIGATÓRIA E SIM ASSOCIADA AO PRAZER

Gonçalo M. Tavares

Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970, em Luanda. Passou a sua infância em Aveiro. Publicou a sua primeira obra em dezembro de 2001. Editou romances, contos, ensaio, poesia e teatro.
Em Portugal recebeu vários prêmios, entre os quais: o Prêmio José Saramago 2005 e o Prêmio LER/Millennium BCP 2004, com o romance
Jerusalém; o Grande Prêmio de Conto da Associação Portuguesa de Escritores “Camilo Castelo Branco” com Água, Cão, Cavalo, Cabeça.
Prêmios internacionais: Prêmio Portugal Telecom 2007 (Brasil); Prêmio Internazionale Trieste 2008 (Itália); Prêmio Belgrado Poesia 2009 (Sérvia); Nomeado para o Prix Cévennes 2009 – Prêmio para o melhor romance europeu (França).


                            
TRECHO   DE  ENTREVISTA



CNE: Sobre esse jovem que está agora tomando gosto pelos livros, o que considera o principal fator na formação e, principalmente, na manutenção do hábito da leitura?

GMT:
Não há regras, mas parece-me importante, em primeiro lugar, associar a leitura a uma vontade, ou seja, tentar que não seja nada obrigatório. Não sou muito entusiasta da leitura obrigatória, digamos que prefiro a ideia da leitura aconselhada. Em vez de fazer o jovem ler três ou quatro livros predeterminados, poderia haver 15 e ele escolher dentre esses. Ou seja, haver sempre a opção, para que ele sinta que há um grau de liberdade, de decisão individual, que não é uma imposição. Creio que a leitura deve ser associada ao puro prazer. Se alguém não está gostando de um livro, deve interrompê-lo e voltar a ele quando achar que está preparado. Muitas vezes, a imposição de ler um livro até o fim, aos 12 ou 13 anos, pode fazer com que a pessoa se afaste de um autor muito importante, extraordinário, porque entrou nele quando não estava preparada. Isso acontece com Camões e Eça de Queirós aqui em Portugal. São clássicos indispensáveis para qualquer leitor, mas alguns jovens, naquela fase da vida, não entram nos livros.

CNE: Como evitar, então, que a obrigatoriedade afaste indiretamente alguns alunos da leitura?

GMT:
A lógica dos livros obrigatórios quase assume que todas as pessoas naquela série estão na mesma idade de maturação, na mesma idade de leitor. Vinte pessoas de 15 anos podem estar na mesma turma e algumas terem idade de leitor de 30 anos, outras de 10. A idade de leitura não corresponde à idade, digamos, biográfica e, portanto, temos de respeitar essa idade individual, quase interna. Por isso mesmo, creio que se deve abrir a biblioteca aos alunos, para que possam folhear os livros, abrindo um e outro até escolherem algum. Um modelo possível e simpático é o jovem entrar acompanhado por leitores mais velhos, que podem orientá-lo. Assim temos, por um lado, a escolha individual e, por outro, a troca e o saber ouvir sugestões de leitores mais maduros.

Fonte: Cartacapital.com.br, 15/09/2011

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