MC Essa vida moderna, cheia de limitações e imposições, dificulta a busca da felicidade?
CC Não tenho muito interesse pela felicidade. Eu vivi os anos 60, fiz tudo o que me interessava, passei um tempo na Índia e no Nepal, e poderia ter ficado por lá, nas drogas, se a felicidade me interessasse. Moraria até hoje em Katmandu, meio pelado, com os macacos, passeando pelas lojas que vendiam tudo o que alguém poderia querer, em várias qualidades e quantidades, a preço de banana. Se quisesse a felicidade, por que teria saído de lá? Não é a felicidade que me interessa. O que me interessa é a vida, é a intensidade das experiências, boas e ruins. Se tiver que curtir uma dor porque morreu meu pai, ou meu cachorro, ou me separei de alguém que eu amava, é para chorar mesmo, e chorar é legal, faz parte de sentir a experiência.
MC A gente não sabe sofrer, é isso?
CC Ou isso ou a gente foi convencido pela idéia de que o sofrimento não deve fazer parte de nossas vidas. Isso é um aspecto psiquicamente higienista. Uma espécie de intervenção médica em cima da nossa vida. É extremamente desagradável essa idéia de que o sofrimento seja considerado patológico, isso é uma loucura. Claro, é evidente, se alguém considera se matar porque perdeu o relógio, aí existe uma desproporção, mas a idéia de dizer: 'Ah, morreu seu pai e eu vou medicá-lo para que você atravesse o luto corretamente' acho um absurdo, uma merda
(Fonte: Revista Marie Claire, Edição 207, nun/2008)
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