Tão bom é o sono. Como sou cão, durmo mas estou acordado. A bicicleta está parada, mas parece andar. E me levar. Vai me arrastando pelas ruas e as imagens passam rápidas, embaçadas. Não sei se sonhos, não sei se fantasmas de casas, de pessoas, de letras e de amores. E eu me sinto levitar, olhos entreabertos. Sonho? Mas se abro os olhos não vejo com tanta nitidez as mesmas coisas ? Sim, envelheço e sou ordinário, estou com a bicicleta mas estou só. Tão simples latidos.
Tão bom é o sono. Como sou bicicleta que dorme encostada na parede, sonho estar carregando um cão. Mesmo parada, rodo pelas ruas. Uma roda parada pode rodar ? Imagino que rodo ou a realidade me cerca. Se estamos aqui nesse mundo nem podemos conversar. Linguagem de cão não é de bicicleta. Sim, me enferrujo e estou só mesmo com o cão.Tão simples rangeres.
Foto: Maciej Dakowicz
(TEXTO: FRANCISCO CARVALHO)
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