Já falei aqui que é difícil encontrar bons filmes documentários sobre poetas.Mas um dos melhores é "Pan-cinema permanente", de Carlos Nader, sobre seu amigo e poeta Wally Salomão, filme de 2008.Wally é um grande poeta que nasceu/apareceu em Jequié e morreu/saiu de cena em maio de 2003.Cena é a palavra apropriada para falar desse poeta. No filme e na vida, Wally encena constantemente um personagem para si.Fala sem parar, verbaliza, gesticula.Alterar é a palavra-chave, alterar a percepção, a visão de mundo.Desde seu primeiro livro,"Me segura qu'eu vou dar um troço", de 1972, ele vem encenando/vivendo/performanceando a vida.Fez letras de músicas como "Vapor barato", com Jards Macalé, dirigiu discos de Cássia Eller, participava de ONGS, ajudou Gilberto Gil quando ministro da cultura.Wally era tudo e um pouco mais.O jornalista Cléber Eduardo, numa crítica, assinala que no filme tenta-se mostrar momentos de descontração do poeta, mas Wally encena o tempo todo, gesticula, faz um personagem, revela-se escondendo-se.O amigo Carlos Nader faz um poema cinematográfico em homenagem ao poeta Wally, acompanhando-o em diversos momentos de sua vida, pelo Brasil e pelo mundo.E nos mostra que a palavra é o "dom" desse baiano, a palavra que aparentemente brota fácil,jorra, inunda toda uma vida e a vida de seus leitores-fãs.No trecho inicial do poema "Devenir, devir" ele diz:"Término de leitura/de um livro de poemas/não pode ser o ponto final." Término de ver um filme como "Pan-cinema permanente" faz você não ser mais a mesma pessoa, alterou como ele queria. Quem ainda não viu, precisa assistir e se divertir com a personagem quase quixotesca e maluca que é Wally. No final do poema acima citado, ele nos chama, alerta: "Leitor, eu te proponho/a legenda de Goethe:/morre e devém./MORRE E TRANSFORMA-TE". Assista ao filme e transforma-te.
(FRANCISCO CARVALHO)
Nenhum comentário:
Postar um comentário