sexta-feira, 9 de setembro de 2011

MINI-CONTO: ANJOS SUICIDAS

  Combinaram de se suicidar juntos.Os olhos baixos lacrimejavam, as mãos tremiam, geladas.Era de madrugada e vestiram asas de anjos compradas na 25 de março.Porque iam pular.Da ponte.Na Marginal Pinheiros.Banharam seus corpos com sabonete Lux.Ele abriu a boca para falar, ela pôs o dedo impedindo. Suicídio: a atração pelo nada segundo Albert Camus.O não ser mais.Pedro Nava se suicidou, Tchaikovski se matou, Hitler tirou a vida, Kurt Cobain teve coragem.Van Gogh. Agora eles,com asas de anjo, roupas brancas.Tomaram o ônibus.Todos olhavam os dois anjos em pé no corredor do ônibus.O coração batia quando desceram e viram três mendigos, sujos, dormindo sob cobertores imundos. Dos postes descia uma luz de cinema.Não falavam. Como tinha sido o momento final de Kurt Cobain? A calçada tinha vários sacos de lixo.Comeram uma barra de chocolate comprado no camelô pela manhã.O direito de morrer bem.O pacto forte quando se deram as mãos, chorando, prontos para pular.O susto com o miado de um gatinho cinzento, que olhava para eles com carinho.Pode estar nos olhos de um gato o sentido da vida?Ficaram acariciando o felino, sem falar.E o levaram para casa.Amanhã tentariam de novo ir para o nada.Como fizeram durante quatro anos.O nada que é tudo. 
(FRANCISCO CARVALHO)

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