sábado, 10 de setembro de 2011

MINI-CONTO: FACA NO CORPO

  "Qué ruído tan triste el que hacen dos cuerpos cuando se aman" (Luis Cernuda)                                                                                  Definir uma faca é pelo ângulo de afiação.É sentir o poder de corte, o brilho da lâmina, é observar a prata fria e fina no poder do movimento.A faca se movimentou seis vezes no corpo dele.Esse instrumento perfurou a carne em todas as suas camadas.Ela não sabia se a lâmina era de aço de carbono ou de aço inoxidável, apenas a pegou na gaveta. Enquanto ele dormia,avaliou com amor cada poro, cada pelo.E a suavidade dos mamilos.Assim ele não ficaria com ninguém.Não nascemos para morrer? As facas ficam ali na gaveta com os garfos.Toma-se um bombril e se lava sua lâmina, vermelha não de maçã.Enxuga-se com o pano de prato com cerejas desenhadas.E se senta ao lado do amado, e se espera.Ninguém mais gozaria esses olhos.Essas mãos não tocariam ninguém.Essa a conquista da felicidade suprema, da transcendência. E esperar.Uma faca guardada na gaveta.  (FRANCISCO CARVALHO)                                                                                                                                                                

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