Para Matteo, sobrinho que o titio ama
bobóbobóbobóbobóbobóbobóbobóbobóbobóbobóbobóbobó(quando via uma moto)
Quando abri os olhos vi papai e mamãe.Não podia ver mais nada.A luz estava neles, isso é dar à luz.Eu trouxe esses seres ao mundo assim que saí da barriga.Papai e mamãe nasceram.Os olhos dela fui eu que fiz,tão doces ao me olhar naquela hora no hospital.E a cada dia papai crescia, esperto, rindo, me filmando. Ele já mexia suas mãozinhas, balbuciava bobó pra mim sem ainda saber falar. Quando nasci eles ainda eram manchinhas estranhas.Logo mamãe começou a falar mamã, foi uma revolução. Logo papai começou a andar,não engatinhava mais ao meu lado. Assim que ficaram mais espertos eu ensinei papai e mamãe a por comida na minha boca. Eles fizeram certinho.Quando não acertavam eu chorava e brigava, eles aprendiam. Mas eu ainda fiz papai e mamãe me amarem, foi fácil. Porque eu amei os dois assim que os vi nascerem, tão fofos que dava vontade de apertar as carinhas. Agora que eles cresceram, eu os levo pra passear no parque e eles se divertem. É tão bom ter criado papai e mamãe juntos.Eles crescem cada vez mais espertos, sapecas, risonhos.Já aprenderam a dirigir e me levam pra todo lugar. Eu não vejo nada, só eles. Eu finjo que os lugares são bonitos mas na verdade eu estou olhando pra eles. Não quero esquecer o rosto desses seres que eu fiz nascer. O mundo é papai e mamãe. E o resto.(FRANCISCO CARVALHO)
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
terça-feira, 20 de setembro de 2011
MINI-CONTO: VIRAR PALAVRAS
Quis ser como os personagens de mini-contos, que geralmente só existem com sílabas, acentos, fonemas, palavras.Tudo em volta deles era palavras e linhas.Tão mais fácil e lindo viver assim.Despediu-se das aulas, nunca mais veria o Jardim Colombo a não ser em letras.Avisou Paula, Flávio, Thiago e Isabella.Comunicou à Mariza que seria palavra.Ninguém entendeu esse desejo de virar letras pretas de mini-conto. Estendeu e abriu livros no chão da sala, absorveu a tinta, o corpo letrou. Poros e pontos, pelos e vírgulas, bocas e os.Meu Deus, num conto é possível ser palavra, e me pontuar, pensou.MAIÚSCULAS, minusculas,itálicos.Passou a viver como letras e com letras. A realidade não existe a não ser nas palavras. Para ser é preciso ser palavra. Assim corre o mundo, filosofava. E nunca mais voltou ao pobre mundo.Porque é do mundo pobre que se escreve. E se finge virar palavras.Palavreei.(FRANCISCO CARVALHO EM PALAVRAS)
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
MINI-CONTO: FÁBULA
Desejou ser alguém.Nasceu de mãe, surgiu no mundo, virou gente. Quis ser mais e fez universidade. Depois quis a beleza física, mas já tinha.Ainda quis a saúde.Como querer o que já possuía ? Pediu inteligência, mas sempre a teve. Pediu amor, mas já tinha, de tudo e todos que o rodeavam. Tudo que possuía era demais. Como a vida: beleza superior, saúde, inteligência, amor total de todas as formas e espécies. Então sentou-se e desistiu do mundo. Ter era não ter. Começar tudo de novo. Desejar ser alguém, nascer, surgir no mundo. Fazer universidade. Ter beleza física e amor. Casa pra morar, ganhar dinheiro.Mas como? Sentado, desistindo do mundo. Então se levantou e desejou ser alguém, nasceu de mãe, teve casa pra morar, amou os amores de amar.E percebeu que assim era. Que continuava. Que se conquistava aos poucos, pensou. Insatisfação, prazer, prazer da insatisfação. E recomeçou para descobrir. E viveu. (FRANCISCO CARVALHO)
"PRESENTE VIVO"(poema de Affonso Romano de Sant'Anna)
Viver
é conjugação diária
do presente.
Viver é presentear.
Mais que um jeito de doer
é um modo de doar.
E um presente
mais que um objeto
é um elo entre dois olhos
a floração do gesto
o prateado evento
e o cristalino afeto.
Não se dá
apenas pelo prazer
de ver
o outro receber.
Dá-se
para que o outro
entre-abrindo-se ao presente
também dê.
é conjugação diária
do presente.
Viver é presentear.
Mais que um jeito de doer
é um modo de doar.
E um presente
mais que um objeto
é um elo entre dois olhos
a floração do gesto
o prateado evento
e o cristalino afeto.
Não se dá
apenas pelo prazer
de ver
o outro receber.
Dá-se
para que o outro
entre-abrindo-se ao presente
também dê.
sábado, 10 de setembro de 2011
MINI-CONTO: FACA NO CORPO
"Qué ruído tan triste el que hacen dos cuerpos cuando se aman" (Luis Cernuda) Definir uma faca é pelo ângulo de afiação.É sentir o poder de corte, o brilho da lâmina, é observar a prata fria e fina no poder do movimento.A faca se movimentou seis vezes no corpo dele.Esse instrumento perfurou a carne em todas as suas camadas.Ela não sabia se a lâmina era de aço de carbono ou de aço inoxidável, apenas a pegou na gaveta. Enquanto ele dormia,avaliou com amor cada poro, cada pelo.E a suavidade dos mamilos.Assim ele não ficaria com ninguém.Não nascemos para morrer? As facas ficam ali na gaveta com os garfos.Toma-se um bombril e se lava sua lâmina, vermelha não de maçã.Enxuga-se com o pano de prato com cerejas desenhadas.E se senta ao lado do amado, e se espera.Ninguém mais gozaria esses olhos.Essas mãos não tocariam ninguém.Essa a conquista da felicidade suprema, da transcendência. E esperar.Uma faca guardada na gaveta. (FRANCISCO CARVALHO)
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
MINI-CONTO: ANJOS SUICIDAS
Combinaram de se suicidar juntos.Os olhos baixos lacrimejavam, as mãos tremiam, geladas.Era de madrugada e vestiram asas de anjos compradas na 25 de março.Porque iam pular.Da ponte.Na Marginal Pinheiros.Banharam seus corpos com sabonete Lux.Ele abriu a boca para falar, ela pôs o dedo impedindo. Suicídio: a atração pelo nada segundo Albert Camus.O não ser mais.Pedro Nava se suicidou, Tchaikovski se matou, Hitler tirou a vida, Kurt Cobain teve coragem.Van Gogh. Agora eles,com asas de anjo, roupas brancas.Tomaram o ônibus.Todos olhavam os dois anjos em pé no corredor do ônibus.O coração batia quando desceram e viram três mendigos, sujos, dormindo sob cobertores imundos. Dos postes descia uma luz de cinema.Não falavam. Como tinha sido o momento final de Kurt Cobain? A calçada tinha vários sacos de lixo.Comeram uma barra de chocolate comprado no camelô pela manhã.O direito de morrer bem.O pacto forte quando se deram as mãos, chorando, prontos para pular.O susto com o miado de um gatinho cinzento, que olhava para eles com carinho.Pode estar nos olhos de um gato o sentido da vida?Ficaram acariciando o felino, sem falar.E o levaram para casa.Amanhã tentariam de novo ir para o nada.Como fizeram durante quatro anos.O nada que é tudo.
(FRANCISCO CARVALHO)
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
"PAN-CINEMA PERMANENTE" :O POETA WALLY SALOMÃO NOS ALTERA
(FRANCISCO CARVALHO)
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
MINI-CONTO: AQUILO
Naquele dia o sol caiu sobre o seu corpo como nunca tinha caído.E o vento acariciou seus contornos de treze anos. Espinhas, cravos e pústulas brotavam no rosto, avermelhando a vida. Braços longos, pernas curtas, olhos curiosos. Nunca tinha visto a areia da praia assim, tão humana.Ali sozinho na praia, deu cambalhotas na areia.Aquilo.Não era mais criança, o sangue corria de outra forma nas veias, inaugurando o mundo. Nunca a cor do mar fora tão azul.E o sol dava alegria, fazia sorrir, pular, começou a cantar e parou.Ele se sentou. Treze anos já. E tinha dado seu primeiro beijo numa menina.Aquilo.
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