Um ramo, um longo barco, duas mulheres. Num rio, passeando. Rio escuro como o Tietê. Um quadro de Monet na parede: "De canoa no Epte". Ele coça o nariz: Epte? Que isso? Ele segurança do Masp tanto mais viu os visitantes pararem ali e olharem. Também olha para ver a beleza que eles vêem. Nem é bonito. Não ser bonito pode ser beleza? O quadro que ele tinha em casa na Zona Leste era mais bonito na parede. Tal de Monet. As águas do rio não eram água, eram pinceladas, constatou apontando a lanterna. É madrugada. Como ver essa tal de beleza? Tem voltado inquieto no metrô. Por que eles vêem o que eu não vejo? Pedem para não tocar na obra. Será que o mistério da beleza estaria aí? Ergueu, trêmula, a mão que não segura a lanterna - toca o Epte, e toca o belo. E toca um alarme. Preso por tentar roubar um Monet. E sua beleza.
Francisco Carvalho
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