segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
OCTAVIO PAZ FALANDO SOBRE POESIA
"A palavra quando é criação desnuda. A primeira virtude da poesia tanto para o poeta como para o leitor é a revelação do ser. A consciência das palavras leva à consciência de si: a conhecer-se e a reconhecer-se."
"Não é poeta aquele que não tenha sentido a tentação de destruir ou criar outra linguagem."
"Não é poeta aquele que não tenha sentido a tentação de destruir ou criar outra linguagem."
POEMA DE OCTAVIO PAZ 3
PALPAR
Mis manos
abren las cortinas de tu ser
te visten con otra desnudez
descubren los cuerpos de tu cuerpo
Mis manos
inventan otro cuerpo a tu cuerpo
POEMA DE OCTAVIO PAZ 2
Octavio Paz talvez seja um dos poetas de que mais gosto. Sua capacidade de criar imagens, de recriar o mundo em palavras ou, melhor ainda, de criar um mundo em palavras, é surpreendente. Sou um apaixonado pelo poder de condensação de alguns dos seus poemas. É possível captar, fotografar, retratar um meio-dia qualquer como ele faz ? Só mesmo os grandes poetas...
MEDIODÍA
La luz no parpadea,
El tiempo se vacía de minutos,
Se ha detenido un pájaro en el aire.
MEIO-DIA
A luz não pisca,
O tempo se vazia de minutos,
se deteve um pássaro no ar.
(Francisco Carvalho, pedindo humildemente licença a Octavio Paz
para pobremente traduzi-lo)
MEDIODÍA
La luz no parpadea,
El tiempo se vacía de minutos,
Se ha detenido un pájaro en el aire.
MEIO-DIA
A luz não pisca,
O tempo se vazia de minutos,
se deteve um pássaro no ar.
(Francisco Carvalho, pedindo humildemente licença a Octavio Paz
para pobremente traduzi-lo)
POEMA DE OCTAVIO PAZ
DESTINO DEL POETA
¿ Palabras ? Si, de aire,
y en el aire perdidas.
Déjame que me perda entre palavras,
déjame ser el aire en unos lábios,
un soplo vagabundo sin contornos,
breve aroma que el aire desvanece.
También la luz em sí misma se perde.
¿ Palabras ? Si, de aire,
y en el aire perdidas.
Déjame que me perda entre palavras,
déjame ser el aire en unos lábios,
un soplo vagabundo sin contornos,
breve aroma que el aire desvanece.
También la luz em sí misma se perde.
DESTINO DO POETA
Palavras ? Sim. De ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.
Palavras ? Sim. De ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.
FALANDO DO POETA MEXICANO OCTAVIO PAZ
Octavio Paz
![](http://blogs.utopia.org.br/poesialatina/files/octavio_paz.jpg)
Manteve contato com personalidades importantes como Pablo Neruda, Xavier, Albert Camus, entre outros. Cultivou o surrealismo e sua obra poética tem importância, não só como poesia, mas como reflexão sobre todo âmbito da ocupação poética. Seu interesse pelas culturas primitivas levou-o em 1951 à Índia, onde viveu durante anos, como embaixador. Renunciou em 1968, em sinal de protesto ao massacre na Praça das Três Culturas (Tlatelolco), quando o governo mexicano reprimiu à bala manifestação estudantil durante os Jogos Olímpicos.
Entre seus trabalhos poéticos de fim de século estão: “La Llama Doble”; “Amor y Erotismo”; “Vislumbre de la India”. Nos últimos anos, de sua vida, publicou intensamente, interveio (não para a alegria de todos) nos rumos de seu país, organizou suas obras completas, acrescentou-lhe, poemas, ensaios e memórias. Morreu na capital mexicana em 1998.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
A Cultura Deve Ser Uma Descoberta Individual de Cada um de Nós
Não se deve intervir, não nos devemos meter nos problemas que cada um tem com a leitura. Não devemos sofrer por causa das crianças que não leem, perder a paciência. Trata-se da descoberta do continente da leitura. Ninguém deve encorajar nem incitar outra pessoa a ir ver como ele é. Já existe excessiva informação no mundo acerca da cultura. Devemos partir sós para esse continente. Descobri-lo sozinhos. Operarmos sozinhos esse nascimento.
Todas as obras-primas do mundo deveriam ser encontradas pelas crianças nos despejos públicos, e lidas às escondidas dos pais e dos mestres.Por vezes, o fato de se ver alguém a ler um livro no metrô, com grande atenção, pode provocar a compra desse livro. Mas não quanto aos romances populares. Aí, ninguém se engana quanto à natureza do livro. Os dois gêneros nunca estão juntos nas mesmas mãos. Os romances populares são impressos em milhões de exemplares. Com a mesma grelha aplicada, em princípio, há uns cinquenta anos, os romances populares desempenham a sua função de identificação sentimental ou erótica. Depois de os terem lido, as pessoas abandonam-nos nos bancos públicos, no metrô, e serão apanhados por outras pessoas e novamente lidos. Isso será ler? Sim, penso que sim, é ler como se toma um remédio, mas é ler, é ir buscar a leitura ao exterior de si próprio e ingeri-la e fazê-la sua e dormir e cair no sono para, no dia seguinte, ir trabalhar, juntar-se a milhões de outras pessoas, a solidão matricular, o esmagamento.
Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "
Não se deve intervir, não nos devemos meter nos problemas que cada um tem com a leitura. Não devemos sofrer por causa das crianças que não leem, perder a paciência. Trata-se da descoberta do continente da leitura. Ninguém deve encorajar nem incitar outra pessoa a ir ver como ele é. Já existe excessiva informação no mundo acerca da cultura. Devemos partir sós para esse continente. Descobri-lo sozinhos. Operarmos sozinhos esse nascimento.
Todas as obras-primas do mundo deveriam ser encontradas pelas crianças nos despejos públicos, e lidas às escondidas dos pais e dos mestres.Por vezes, o fato de se ver alguém a ler um livro no metrô, com grande atenção, pode provocar a compra desse livro. Mas não quanto aos romances populares. Aí, ninguém se engana quanto à natureza do livro. Os dois gêneros nunca estão juntos nas mesmas mãos. Os romances populares são impressos em milhões de exemplares. Com a mesma grelha aplicada, em princípio, há uns cinquenta anos, os romances populares desempenham a sua função de identificação sentimental ou erótica. Depois de os terem lido, as pessoas abandonam-nos nos bancos públicos, no metrô, e serão apanhados por outras pessoas e novamente lidos. Isso será ler? Sim, penso que sim, é ler como se toma um remédio, mas é ler, é ir buscar a leitura ao exterior de si próprio e ingeri-la e fazê-la sua e dormir e cair no sono para, no dia seguinte, ir trabalhar, juntar-se a milhões de outras pessoas, a solidão matricular, o esmagamento.
Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "
Nunca Nos Separamos do Primeiro Amor
Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele.
Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.
Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "
Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele.
Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.
Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "
TRECHOS DO ROMANCE "O AMANTE" DE MARGUERITE DURAS
O Amante
«Um dia, já eu era velha, um homem dirigiu-se-me à entrada de um lugar público. Deu-se a conhecer e disse-me: – «Conheço-a desde sempre. Toda a gente diz que você era bonita quando era nova, vim dizer-lhe que, para mim, acho-a mais bonita agora do que quando era jovem, gostava menos do seu rosto de mulher jovem do que daquele que tem agora, devastado.»
Penso frequentemente nesta imagem que sou a única a ver ainda e de que nunca falei. Está sempre aí no mesmo silêncio, deslumbrante. É,de todas, a que me agrada de mim própria, onde me reconheço, onde me encanto.
Muito cedo na minha vida foi tarde demais. Aos dezoito anos era já tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele abrandaria e retomaria o seu curso normal. As pessoas que me tinham conhecido aos dezessete anos quando da minha viagem à França ficaram impressionadas quando me voltaram a ver, dois anos depois, aos dezenove anos. Conservei esse novo rosto. Foi o meu rosto. Envelheceu ainda, evidentemente, mas relativamente menos do que deveria. Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos, conservou os mesmos contornos mas a sua matéria está destruída. Tenho um rosto destruído.
MARGUERITE DURAS (ESCRITORA FRANCESA)
marguerite duras
biografia:
Marguerite Duras nasceu em Gia Dinh, na Indochina (agora Vietnam), em 1914, onde passou a infância e a adolescência. A autora irá ficar profundamente marcada pela paisagem e pela vida da antiga colónia francesa, frequentemente referidas na sua obra literária.
O seu pai morreu quando tinha quatro anos de idade, e a sua mãe, uma professora, lutou arduamente para criar três filhos sozinha. Durante a adolescência, Marguerite Duras teve um caso com um homem chinês rico e retorna mais tarde a este período nos seus livros (nomeadamente O Amante e O Amante da China do Norte). Aos 17 anos viajou para França, onde estudou Direito e Ciência Política no Sorbonne, formando-se em 1935.
Durante a II Guerra Mundial, marguerite Duras tomou parte da da Resistência Francesa, filiando-se também no partido comunista.
Duras publica os seu primeiros livros em 1943 e 1944, Os Imprudentes e A Vida Tranquila, respectivamente. A partir de 1959 começa também a escrever argumentos para o cinema, dos quais Hiroshima meu amor é sem dúvida o mais conhecido e marcante. Em 1950, com Uma barrangem conhtra o Pacífico, Duras esteve muito próxima de ganhar o Prémio Goncourt. É no entanto apenas 30 anos depois que a injustiça lhe é reparada, ganhando o prémio por unanimidade com o romance O Amante. É uma autora muito fértil, com uma obra literária vastíssima, desde os romances aos argumentos cinematográficos. Afirma-se sempre com um estilo de beleza inconfundível, num tom duro e denso, por vezes até um pouco inacessível, mas sempre numa expressão profundamente genuína e humana das paixões, grandezas e misérias da vida. Marguerite Duras é por excelência uma escritora da condição humana, mas contudo não procura utilizar a escrita como forma de redenção e/ou salvação; antes, a escrita é uma exigência urgente, um valor supremo em que reside, uma vontade bruta de falar de si. As suas obras estão repletas de descrições belíssimas e soberbamente envolvidas na ambiência exótica da paisagem oriental, não sem deixarem reconhecer uma intensidade angustiada e desesperada, oriunda de uma constante luta da autora com as questões do amor e da morte.
Durante a década de 1980, Marguerite Duras apaixona-se por Yann Andréa Steinner, um homem 38 anos mais novo. Duras viverá com Yann até à sua morte em 1996, mas não sem antes atravessar um duro período em que permaneceu junto do seu marida Robert Antelme, depois de este ter sobrevivido milagrosamente a uma captura pela Gestapo. Este período serviu de base para uma colecção de histórias curtas, intitulada A Dor (de 1985), um grito literário sobre a pressão sob que viveu.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
POEMA DE EUGÊNIO DE ANDRADE
![Eugénio Andrade](http://www.citador.pt/images/autorid20011.jpg)
Sim, eu conheço, eu amo ainda
esse rumor abrindo, luz molhada,
rosa branca. Não, não é solidão,
nem frio, nem boca aprisionada.
Não é pedra nem espessura.
É juventude. Juventude ou claridade.
É um azul puríssimo, propagado,
isento de peso e crueldade.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
POEMA DE ALEXANDRE O'NEILL, POETA PORTUGUÊS
Amigo
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
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