Naquele dia colou fotos dele nos postes todos da cidade.Depois, as mesmas fotos do rosto dele ela afixou em quase todos os muros, mandou fazer até um outdoor com aquela face. Ainda assim, de um helicóptero lançou milhares de fotinhas do rosto levemente barbado de seu namorado. Desesperada, imprimiu aquele rosto nas camisetas de todos os passantes das ruas todas. Enlouquecida, tatuou-o no corpo quase todo. Fez com que no MASP as obras fossem trocadas por variações do rosto do namorado, em todos os estilos, de todos os séculos. Nos canais todos de tv passava o rosto levemente barbado de seu namorado.
Não era o fim de um amor, não era a busca pelo amante que se foi sem deixar notícias. Era simplesmente a celebração da beleza do rosto dele, de cada célula, de fios da barba, do nariz aristocrático de Ashton Kutcher, das nuances e trocas de luz sobre a pele do rosto. Era a celebração do sorriso do namorado, sorriso entre tímido e escancarado, mas devastador. Era o grito pela beleza negra de seus olhos, que prometiam e recusavam, olhos de ressaca. Não, as fotos não eram por uma busca, eram já por um encontro, que o rosto lindo do namorado dela era para ser celebrado, festejado. Como se festeja a leitura de um poema de Neruda, como se celebra um mar calmo, como se abisma diante da cena inicial de "Morte em Veneza" de Visconti, como se encanta com a simplicidade e profundidade de "Cajuína" de Caetano Veloso. Um rosto é pra ser celebrado. (FRANCISCO CARVALHO)
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