quarta-feira, 24 de agosto de 2011

MINI-CONTO: CARPE DIEM



Naquele dia, quando se levantou, percebeu que estava morto.Tocou-se,ainda parecia ter carne.Levantou-se e foi até o espelho.Ainda estava ali, não era um vampiro.Então a morte é continuar sendo? Se era assim, melhor tomar banho.Que delícia a água quente, a beleza das gotículas na pele! Que maravilha, nunca percebida pela pressa, a maciez da toalha no corpo! Vestir a roupa,que atividade prazerosa! Morrer é continuar sendo...Mas ,se morreu, não ir ao trabalho.Não fazer nenhuma ação que não fosse prazer, vida após a morte.Ah, a brisa fresca no Parque do Ibirapuera, ah o movimento dos carros, ah um papel de bala levado pelo vento, ah o olhar daquela mulher que passou rápido, ah o céu tão azul.Ohhhhh um besouro morto na calçada, ohhhh mendigos sujos encostados na parede,ohh o cinza da cidade. Tudo isso não era vida dentro da morte ? Descobrir a luminosidade nas dobras de uma cortina, perceber a beleza na feiúra, vislumbrar/ouvir o som de uma porta que se abre.Apenas caminhar apreciando tudo.Morrer é ver tudo de novo sem ser Brás Cubas.É meio-dia e o sol vara todos os prédios e todas as plantas. São cinco horas e dá pra ver o silêncio. Já é noite e as paredes se apagam de vida.Então voltar para casa, deitar-se.Amanhã encontrarão o cadáver.

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